Monday, May 24, 2010

MUDANÇAS !




Um dia ser bonzinho demais me fez mal. Isso já não mantinha mais as pessoas ao meu redor. Um dia aconteceu algo que mudou meu modo de ver as pessoas e de encarar a vida.
Desde que eu sou pequeno meus pais me preparam para o mundo. Me dão valiosas dicas de como eu deveria me comportar. Nunca satisfeito, sempre muito exigente. A escola era sempre uma disputa, a minha nota tinha que ser a maior. Tinha que superar todos, ser melhor que todos, saber mais do que só a matéria. Na época do vestibular, por mais que estudasse, nunca era suficiente. E tanto me foi exigido, que eu acabei ficando exigente. Não ficaria satisfeito se não conseguisse o melhor: a faculdade que eu queria de primeira, sem cursinho, sem segunda chamada, se não fosse o melhor, se minha nota não fosse a maior...
Se não fosse o melhor em tudo que fizesse, desde um desenho à mão livre até conseguir qualquer coisa que eu quisesse. Qualquer coisa.
Esse excesso de cobrança e exigência me fizeram assim, exigente demais comigo mesmo. Passei a adotar pra mim sempre limites maiores e objetivos mais difíceis. Quando os alcançava, já criava um outro maior e mais difícil ainda. O que eu queria, eu iria ter. O que eu quisesse ser, eu seria. Quem eu quisesse, eu conquistaria.

Passei a ser exigente demais com as pessoas e com as namoradas que eu tinha. Se não atendessem a um pré-requisito meu - alto, sempre alto - não serviam para mim.
Quando entrei para o mercado de trabalho, essa ideia de excelência me acompanhou. Desde o bom dia prá recepcionista até entregar o trabalho pronto, eu tinha que ser perfeito. Nesse meio, encontrei gente que me disse que identificou em mim um diamante bruto que precisava ser lapidado. Para melhorar? Claro que aceito! Aprendi como a classe alta se comporta, como comem, como se vestem, como conversam entre si. Aquelas minhas piadas e as brincadeirinhas de antes não tinham mais espaço. Era um mundo sério e recatado. E pensar que eu mesmo escolhi isso pra mim...

Falhei miseravalmente em ser um lord inglês. Das aulas que tive, muito pouco sobrou. Mas não pense que isso seja ruim, acabou saindo bom pra mim. Continuei com meu jeito, e por vezes incomodava algumas pessoas. Muitas vezes as mesmas pessoas que tentaram me lapidar. Sempre que isso acontece, lembro do que meu pai fala: ninguém chuta cachorro morto, e de uma lição que uma amiga me ensinou muitos anos atrás: agora que eu estou incomodando vou parar? Ok, ok, não serei sempre assim. Sei que preciso melhorar.
Um dia, quando resolvi mudar, uma amiga me disse: deixe de ser sistemático. Nunca tinha pensado como essa palavra me define tão bem. Realmente, sistemático. Mas isso nem sempre foi meu. Isso me foi passado. Por sempre ser exigido e cobrado, virei exigente e cobrador. Por sempre estar sozinho, aprendi a resolver todos meus problemas sozinho. Isso de ser exigente primeiramente comigo, me fez querer sempre resolver tudo sozinho, sem precisar pedir ajuda. Uma disputa comigo mesmo.
Essa combinação me fez sistemático. Sei que é errado isso, sei que muitas vezes preciso demais das outras pessoas. Sei que sozinho não vou muito longe, mas isso de sistemático me impede de pedir desculpas, ouvir que estou errado ou acreditar nas pessoas a menos que me conheçam muito ou que atendam uma exigência mínima para que valham alguma coisa pra mim.
Uma vez, alguém de quem eu precisava muito, não precisava mais de mim. Então me vi sozinho. Sozinho e com alguém, que pra mim era um dos melhores tesouros que encontrei, me falando que eu não era tudo aquilo. Mexeu com meu ego, mexeu com minha própria exigência. A partir desse dia, tudo ficou pior.

Passei a ser exigente demais com as pessoas. Aumentei o nível, sem saber se o meu nível tinha subido. Agora, invés de lamentar despedidas, eu corto da minha vida as pessoas que eu acho que estão me atrasando, que eu acho que não vão acrescentar nada pra mim. Falo verdades na cara sem medo das consequências - e chamo isso de selecionar amizades, pois quem gostar mesmo de mim não vai se importar com isso e vai continuar do meu lado. E não levo desaforo pra casa.
Passei a recusar críticas de uma forma geral mas, dessas poucas pessoas que respeito, depois de um tempo refletia a respeito e acabava aceitando. Passei a exigir que me convencessem das coisas, e não só me falassem o que queriam, o que pensavam, ou por que eu estava errado ou por que deveria fazer alguma coisa de outro jeito que não do meu.
Passei a esperar que as pessoas que me conhecem bem soubessem o quê e como eu espero as coisas delas sem eu precisar falar.
Há anos venho cortando gente sem me importar com as perdas, escolho palavras e planejo acontecimentos. Isso satisfaz meu ego e minhas exigências. Só que um dia a fantasia termina, e meu coração, exigente, exige que eu volte a ser o que era. Eu quero ser o melhor do que já fui, mas agora estou tão distante do que já fui, que não sei mais como voltar...

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